São Sebastião, SP

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Notícia publicada hoje, sábado dia 26/09/2009, no jornal Folha de São Paulo on-line, traz notícias sobre a ampliação do porto de São Sebastião (SP).

Ibama devolve estudo da ampliação

do porto de São Sebastião com 19 exigências

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) decidiu na última semana devolver o estudo sobre os impactos ambientais da ampliação do porto de São Sebastião (litoral norte de São Paulo). O EIA-Rima (estudo e relatório de impacto ambiental) foi apresentado ao órgão pela Companhia Docas de São Sebastião. As obras de ampliação, planejadas pelo governo do Estado para começar já em 2010, devem deixar Ilhabela com a vista para um paredão de navios e contêineres. Desde o anúncio da ampliação, ONGs, entidades e políticos da cidade se mobilizaram para tentar ao menos reduzir os impactos na cidade. A devolução do estudo é um dos primeiros frutos da mobilização. No dia 14 de setembro, um ofício assinado pelo coordenador de licenciamento de transportes do Ibama, Eugenio Pio Costa, condiciona a aceitação a 19 exigências. Ao menos sete delas se referem a estudos detalhados sobre o meio ambiente do canal que vai abrigar as novas docas, como, por exemplo, uma estimativa de quantas baleias passam pelo local. Entre as outras exigências estão a elaboração, por parte do governo, de um Plano Diretor de Desenvolvimento de Transportes e um levantamento de quantos empregos devem ser gerados no empreendimento.

Há dois projetos para a ampliação e o mais avançado, elaborado pelo governo do Estado, quer ampliar em 30 vezes a capacidade do porto, alcançando 1,5 milhão de contêineres por ano. Uma área de 40 campos de futebol foi reservada para pilhas de até cinco contêineres de altura. O plano prevê ainda receber o chamado “gigante dos mares” –navio com quase 400 metros e altura de dez andares. O número de navios ancorados passará de quatro para 18 por vez.

S-Sebastião

“Ilhabela e São Sebastião lutam há muito tempo contra a verticalização. Agora, em vez de casas, vamos ter empilhamento de contêineres em alturas equivalentes a prédios de oito ou nove andares”, disse à Folha Georges Grego, presidente do Instituto Ilhabela Sustentável, em agosto deste ano.

O presidente da Companhia Docas de São Sebastião, Frederico Bussinger, a quem foi endereçado o ofício do Ibama, afirmou à Folha ver uma “falsa questão” tanto no terminal de contêineres quanto no aumento de navios parados no canal, à espera de embarque e desembarque de produtos. “É risível falar em pilha de contêiner. Fizemos uma simulação eletrônica e mal se consegue ver o terminal. E navio parado dá prejuízo”, disse em agosto.

ilhabela_1Comentários do autor deste blog:

Conheci a região de São Sebastião há 35 anos atrás. Os leitores deste blog podem imaginar como eram as praias e a mata atlântica locais, absolutamente exuberantes. Índios (sim, índios), pássaros exóticos como tiês-sangue, verões com verdadeiras sinfonias de cigarras, muito peixe, muita lagosta, e muito pouca gente. Nos anos 80, a cobertura de asfalto da Rio-Santos deu acesso rápido ao litoral então considerado como o mais bonito do Brasil, o litoral norte do estado de São Paulo. Muitos leitores deste blog irão considerar esta última afirmativa absurda, se comparado com as praias do nordeste e do Rio de Janeiro. Atualmente muitas destas são, de longe, mais bonitas do que as do litoral de São Paulo. Mas não há 30 anos atrás, quando a mata atlântica chegava a beira-mar, e eram necessárias 6 horas de viagem para chegar à Barra do Sahy a partir de São Paulo. Hoje se chega em 2 horas. O rio Sahy era coalhado de siris azuis, verdadeiras delícias. Hoje está coalhado de cocô, e o rio Sahy é um rio morto, que deságua na praia chamada “Barra do Sahy”, para onde fui inúmeros verões de minha infância. A Barra do Sahy fica exatamente entre São Sebastião e Bertioga. São Sebastião é uma cidade linda, com  um centro histórico com prédios do século XVI e ruas de paralelepípedos.

Barra-do-Sahytiê-sangue

Comecei a freqüentar São Sebastião em 1994, como pesquisador no Centro de Biologia marinha da USP. Realizei várias expedições de coleta nos anos 90, algumas excepcionais. A diversidade marinha da região era realmente incrível. O primeiro projeto temático do qual participei, coordenado pelo Prof. José Carlos de Freitas, tinha como um dos objetivos o levantamento de espécies de esponjas da região, realizado pelo Prof. Eduardo Hajdu (atualmente professor/pesquisador no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro). O levantamento de espécies de ascídias, realizado pela Profa. Rosana Moreira da Rocha (Instituto de Biologia da Universidade Federal do Paraná), foi realizado em paralelo. Foram coletadas 200 espécies de esponjas e cerca de 50 espécies de ascídias, muitas destas ainda não descritas (espécies novas). Dentre as espécies novas, destaco a esponja Aplysina caissara, fonte das caissarinas e substâncias correlatas. Mas a descoberta dos alcalóides indolo-maleimido-carbazólicos da ascídia Didemnum granulatum foi o principal resultado deste projeto. Estes compostos são extremamente interessantes, pois tanto a granulatimida quanto a isogranulatimida apresentaram atividade inibidora do ponto de checagem G2 do ciclo celular, que regula o processo de divisão celular. Com a inibição do ponto de checagem G2, a célula inicia o processo de divisão sem “preparar” o DNA para este processo. Desta forma, ocorrem danos no DNA, que aumentam significativamente a morte das células. As implicações desta descoberta foram muitas, especialmente para o tratamento de diferentes formas de câncer. Basta dizer que as substâncias foram patenteadas e, após os trâmites legais entre a Universidade de São Paulo e a University of British Columbia, a patente foi licenciada para a empresa Alethia BioTherapeutics, que está atualmente desenvolvendo o “follow-up” da granulatimida e da isogranulatimida, objetivando sua utilização como fármacos para o tratamento de tumores.

didgranulatum

alcaloides-didemnum

Ao longo dos anos, os estudos no Instituto de Química de São Carlos (USP) focalizaram investigar principalmente a química e atividades biológicas de esponjas e ascídias. Gostaria de saber quantos organismos mais da região de São Sebastião poderiam eventualmente produzir e/ou acumular substâncias químicas de interesse, com potencial de aplicação. Além disso, a fauna e flora marinha locais ainda são pouco conhecidas. Poucos pesquisadores realizaram estudos de zoologia, ecologia, fisiologia, e outras “ias” mais, com a fauna marinha de São Sebastião, e do Brasil em geral. A costa do Brasil é denominada de Amazônia Azul, da qual a biodiversidade é praticamente desconhecida.

Infelizmente o discurso ambientalista de políticos é só discurso. Não existe, de fato, uma política ambiental para o Brasil. O IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente e pelas ONGs,tentam, de alguma forma, minimizar os estragos em andamento e os possíveis futuros. Os derramamentos de óleo na Baía de Guanabara e na região do porto de São Sebastião nunca levaram à Petrobrás a pagar um centavo de multa, ou sofrer qualquer penalidade. Em prol do “desenvolvimento sustentado”, o que conta é o desenvolvimento, a qualquer custo. Os defensores do meio ambiente são considerados “ecoloucos”, de desejarem o retrocesso e não o desenvolvimento, de colocarem empecilhos para a igualdade social. Resta saber o que restará para nossos netos conhecerem de nosso país. Estradas, prédios, portos, plantações, carros, muitos carros, muito desenvolvimento. Bela maneira em se pensar e se realizar desenvolvimento.

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2 respostas

  1. que bosta de texto é esse !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Há Há Há

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