Bebidas alcoólicas + bebidas energéticas: péssima combinação

Notícia publicada nesta última semana no jornal Folha de S. Paulo on-line alerta

EUA querem proibir venda de bebidas compostas por álcool e cafeína

O Governo dos Estados Unidos afirmou nesta quarta-feira que as bebidas que contêm álcool e cafeína são perigosas e deu um prazo de 15 dias para que os fabricantes encerrem a distribuição desses produtos que são muito populares entre os jovens do país. Caso os fabricantes não sigam as normas, a agência de controle de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) poderá solicitar aos tribunais uma ordem que proíba a venda desses produtos. Segundo os especialistas, as pessoas que tomam bebidas que têm um alto teor de álcool e cafeína raramente se dão conta do grau de intoxicação, que pode induzi-las a condutas perigosas.

O conteúdo de uma lata da mais popular destas bebidas, a “Four Loko”, tem a mesma quantidade de álcool que cinco latas de cerveja e tanta cafeína quanto uma xícara de café puro. A FDA enviou cartas às quatro companhias que produzem as sete bebidas mais populares informando que o governo determinou que a mistura de álcool com cafeína é perigosa e não tem a aprovação das autoridades.

Entre seus principais ingredientes, a “Four Loko” contém ainda guaraná e taurino (sic)1, um aminoácido que supostamente melhora o desempenho atlético e mental.

A “Four Loko” é vendida em latas de cores brilhantes com um volume de 657 gramas de bebida com 12% de álcool e possui diversos sabores de frutas, sendo muito vendida nas universidades americanas. Joshua Sharfstein, comissário adjunto da FDA, destacou em uma declaração escrita que “há provas de que a combinação de cafeína e álcool nestes produtos representa uma ameaça para a saúde pública”.

Recentemente um grupo de estudantes na Universidade Central Washington e da Ramapo College, em Nova Jersey, foram parar na emergência do hospital depois que consumiram a “Four Loko”.

Esta notícia está fortemente relacionada a um estudo recentemente publicado na revista Alcoholism: Clinical & Experimental Research: o consumo exagerado de bebidas energéticas  está fortemente associado a um aumento da freqüência do consumo exagerado de álcool, bem como ao desenvolvimento de alcoolismo. Este estudo foi realizado tendo por base a observação de que estudantes frequentemente consomem bebidas energéticas (com altos teores de cafeína) e bebidas alcoólicas ao mesmo tempo. Os resultados do estudo indicaram que estudantes que têm o hábito de consumir bebidas energéticas pelo menos 1 vez por semana apresentaram tendência significativamente maior a desenvolver dependência alcoólica e tomar porres cada vez mais intensos.

A pesquisa foi realizada com mais de 1000 estudantes de universidades públicas. Verificou-se que aqueles estudantes que apresentaram hábito de consumir bebidas energéticas com maior freqüência estão mais propensos a tomarem maiores doses de bebidas alcoólicas mais cedo em sua vida, beber mais, e apresentar dependência alcoólica. Os pesquisadores verificaram que o consumo de bebidas energéticas “engana” o bêbado, fazendo com que este perceba menos os efeitos da bebida. Mesmo assim, os efeitos do consumo de álcool continuam sendo manifestos – apenas não são percebidos por quem o consome. Logo, tais pessoas estão mais propensas a beber mais e a dirigir bêbadas, pois não percebem que estão bêbadas. Aparentemente, a associação de bebidas alcoólicas com bebidas energéticas está associada a alguns “mitos” de que desta forma fica-se “menos bêbado” e pode-se enganar o teste do bafômetro.

A combinação bebida alcoólica + bebida energética é frequentemente utilizada em eventos universitários com festas, como o que ocorreu recentemente em São Carlos (SP), denominado Tusca (Torneio Universitário de São Carlos). A festa de abertura do Tusca é chamada de Corso. Os estudantes se reúnem nas dependências da Universidade de São Paulo e fazem um “aquecimento” para a saída do campus: batucada e muita bebida. A festa se inicia no período da tarde da véspera de fim de semana de feriado. Muitos estudantes nem conseguem sair para a rua: de tanto beber ficam caídos nos gramados da universidade. A festa é marcada por muita bebedeira. Neste ano quase 300 pessoas foram atendidas nas unidades médicas da cidade, a maioria com sintomas de excesso de bebida e coma alcoólico. Um grupo de cerca de 200 estudantes foi impedido pela polícia de entrar nas dependências do Shopping Center da cidade. Vários estavam visivelmente bêbados. Os policiais foram agredidos com pedras e foram forçados a revidar com bombas de gás lacrimogênio e cassetetes. Durante a festa um estudante foi encontrado morto em um dos córregos da cidade, vítima de afogamento e traumatismo craniano. Suspeita-se que tenha consumido bebida em excesso, o que causou sua queda no córrego. Autoridades e parte da população de São Carlos não desejam mais a realização do Corso na cidade, pelo grande número de problemas que esta festa causa, além de promover destruição e muita sujeira nas vias públicas e nas dependências da USP em São Carlos. Além disso, a compra, venda, fornecimento e consumo de bebidas alcoólicas é proibida por Lei nas universidades estaduais paulistas (veja aqui o Decreto-Lei número 13.545, de 20 de maio de 2009). Logo, a venda e o consumo de bebidas alcoólicas deve ser proibido nas dependências da USP, uma vez que o não-cumprimento da Lei configura crime.

ResearchBlogging.orgArria, A., Caldeira, K., Kasperski, S., Vincent, K., Griffiths, R., & O’Grady, K. (2010). Energy Drink Consumption and Increased Risk for Alcohol Dependence Alcoholism: Clinical and Experimental Research DOI: 10.1111/j.1530-0277.2010.01352.x

Nota

1. O nome do aminoácido é taurina, e não taurino.



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