F for Fake

Pesquisadores norte-americanos são menos éticos do que pesquisadores de outros países? É o que mostra artigo publicado na revista científica Journal of Medical Ethics, que avaliou listas de trabalhos oficialmente retirados das revistas onde foram publicados. E mais: segundo o mesmo estudo, pesquisadores fraudadores tendem a ser fraudadores mais de uma vez.

A análise foi realizada para cada artigo que foi retirado de publicação entre 2000 e 2010. Neste período, 788 publicações foram retiradas (retracted). Cerca de ¾ de todas estas foram retiradas devido a êrros graves. O quarto restante foi retirado por causa de fraudes, principalmente pela “fabricação” de resultados ou falsificações. O maior número de artigos retirados foi de pesquisadores norte-americanos como primeiros autores da lista de autores, o que corresponde a 1/3 do total. Em seguida, pesquisadores do Reino Unido, Índia, Japão e China tiveram mais de 40 artigos retirados de publicação durante a última década. Cerca de 30% de todas estas publicações que foram retiradas de publicações eram de pesquisadores da Coreia do Sul, das quais ¼ estiveram relacionadas a fraudes.

As falsificações foram mais freqüentes em revistas com maior fator de impacto. Mais da metade das publicações retiradas de publicação eram de pesquisadores que já tinham tido publicações fraudadas anteriormente. Já no caso de erros, o número de pesquisadores “reincidentes” chegou a 18%. O número médio de co-autores em artigos retirados de publicação é, em média, maior do que 10, e artigos falsificados tendem a ter muitos autores. Autores “reincidentes” em artigos retirados tiveram, em média, co-autoria com outros seis pesquisadores com pelo menos 3 reincidências de fraudes em publicações científicas.

Será que pesquisadores norte-americanos aparecem com mais artigos retirados simplesmente porque publicam mais? Ou porque são mais desonestos? Seria esta ume tendência mais acentuada em pesquisadores norte-americanos do que em pesquisadores de outros países?

Outro dado a ser notado é o número extremamente baixo de artigos retirados (retracted) em uma década: 788. Considerando-se que em 350 anos foram publicados cerca de 50 milhões de artigos científicos, desde que as primeiras publicações apareceram no Philosophical Transactions of the Royal Society, isso corresponde a uma média de 142.857 artigos publicados por ano. Levando-se em conta que entre 350 e 300 anos atrás o número de artigos publicados deveria ser muito menor do que atualmente, certamente mais do que 10 vezes menos/ano, o número de artigos fraudados deve correspoder a cerca de 0,01% do total dos artigos publicados em uma década, uma porcentagem extremamente baixa.

Sem querer justificar o injustificável, seria interessante saber quantos casos de corrupção foram cometidos por políticos durante os últimos 10 anos. Ou quantos erros de arbitragem foram comprovadamente observados em jogos de futebol durante o mesmo período.

O filme acima é “F for Fake”, de Orson Welles.

ResearchBlogging.org
Steen, R. (2010). Retractions in the scientific literature: do authors deliberately commit research fraud? Journal of Medical Ethics DOI: 10.1136/jme.2010.038125
ResearchBlogging.orgJinha, A. (2010). Article 50 million: an estimate of the number of scholarly articles in existence Learned Publishing, 23 (3), 258-263 DOI: 10.1087/20100308



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2 respostas

  1. Muito interessante esse dado, mas eles analisaram “todos os artigos em inglês retirados do PubMed”, e não todos da história. Podemos esperar que em periódicos menores erros sejam mais frequentes e quiçá, fraudes sequer sejam desmascaradas. Lembro de um caso recente em que um matemático egípcio era editor de um periódico que era em si uma fraude feita para aumentar o número de artigos publicados por ele mesmo.

    Comparar 788 fraudes com todos os artigos da década está errado – melhor seria comparar com todos os publicados no PubMed. Tenho certeza que o número será baixo, pois é da profissão ser rigoroso, mas talvez não tão baixo. Uma comparação interessante: será que médicos erram muito mais que cientistas?

    • Oi Kim,

      Tua afirmativa que “Podemos esperar que em periódicos menores erros sejam mais frequentes e quiçá, fraudes sequer sejam desmascaradas.” é meio perigosa, pois parte do pressuposto que periódicos “menores” (com menor fator de impacto?) aceitam trabalhos mais facilmente, o que nem sempre é o caso. Também me lembro do caso deste editor que você comenta (eu jurava ter postado uma notícia sobre isso aqui, mas não encontrei).

      Eu estou convicto que o número de artigos com fraudes é muito baixo. Acho muito pouco provável que pesquisadores por aí queiram se arriscar a publicar artigos com dados fraudados.

      Quanto à sua pergunta “será que médicos erram muito mais que cientistas?”, bom, em que sentido? Em fazer um diagnóstico errado? Em fazer uma prescrição errada?

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