Comentário a editorial da Revista Virtual de Química, quase 1 ano depois

ACPQuase um ano depois de ter perdido este texto em um pen-drive recentemente recuperado, mostrei-o a colegas que me encorajaram a publicá-lo. Aí vai.

O texto é um comentário ao editorial “Qualidade deve ser a meta da pós-graduação”, pelo Prof. Ângelo da Cunha Pinto na Revista Virtual de Química (leia o texto do Prof. Angelo, aqui).

O Professor Angelo da Cunha Pinto (IQ-UFRJ) colocou em debate um tema que é central no atual momento da ciência brasileira: a qualidade da formação dos alunos de pós-graduação. Este assunto é pauta nas coordenações de área da CAPES, órgão federal que avalia os cursos de pós-graduação, e também nas centenas de coordenações de programas de pós-graduação do país, especialmente em ano de “fechamento de triênio de avaliação” (2013).

As questões levantadas pelo Professor Angelo são extremamente pertinentes. Neste sentido, vale ampliar o debate. O primeiro ponto é um exame de ingresso nacional. Um “ENEM da pós-graduação” seria uma forma adequada de avaliar candidatos a programas tão distintos, com diferentes características? Além do complicado aspecto operacional, já demonstrado na realização do próprio ENEM, tal exame pressupõe critérios idênticos de avaliação para os, por exemplo, diferentes cursos de pós-graduação em química do Brasil, ainda que de diferentes instituições. Neste ponto reside um aspecto importante: seria desejável uniformizar ou diversificar? Uma diversificação de exames de programas de pós-graduação seria algo bastante salutar, tendo em vista as diferentes trajetórias acadêmicas institucionais, linhas de pesquisa do quadro docente, bem como aspectos particulares de cada programa. Uma diversificação dos exames de ingresso e dos programas de pós-graduação ofereceria opções para alunos que buscam se aperfeiçoar segundo diferentes perspectivas profissionais. Uma regionalização do exame da pós-graduação também pouco contribuiria para a formação diversificada de profissionais de alto nível. É certo que assimetrias existem, mas inclusive existem independentemente das regiões. Neste sentido, os exames de ingresso são, de certa forma, um reflexo da “cara de cada programa de pós-graduação”, e assim devem ser, para que os candidatos possam conhecer a natureza do programa de pós-graduação no qual pretendem se especializar.

Aproveito o parágrafo final do texto do Professor Angelo para colocar em pauta outro aspecto: a uniformização dos programas e da avaliação dos programas de pós-graduação. Como bem assinalado pelo Prof. Angelo, as agências de fomento tiveram, e têm, um papel crucial na consolidação do sistema nacional de pós-graduação. Todavia, talvez seja chegado o momento em se refletir se todos os programas de pós-graduação de uma determinada área, química por exemplo, devem ter a mesma estrutura organizacional, com áreas de concentração similares, muitas vezes linhas de pesquisa redundantes, e serem avaliados todos exatamente da mesma maneira. É possível se afirmar que só um modelo de programa de pós-graduação, e de avaliação, é aceitável? Não seria interessante que novos modelos de programas de pós-graduação, e de avaliação dos mesmos, surgissem no país, para ensejar questionamentos e a proposição de alternativas, como forma de buscar uma diversificação do sistema de pós-graduação? Afinal, por que temos que ser mais conservadores do que os pioneiros inovadores que estabeleceram o sistema de pós-graduação nacional?



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