Mais sobre salários de professores universitários

Outra reportagem sobre os salários de professores universitários foi publicada na mídia, desta vez no jornal “O Estado de São Paulo”.

Quanto vale um professor? – Sergio Pompeu

Brasil fica em 18º lugar em levantamento que comparou 28 países; estudo mostra que, em vários países, benefícios indiretos podem até superar salários

Na sociedade do conhecimento, o professor universitário é mal pago. Pior: em muitos casos, é visto não como um membro da elite intelectual, mas como mais um trabalhador qualificado. Essa é uma das conclusões de um estudo comparativo de 28 países publicado este mês pelo Center for International Higher Education do Boston College. Ele mostra que o Canadá é o país que melhor paga seus docentes (média de US$ 7,1 mil). O Brasil ficou numa posição de intermediária para baixa, 18.º lugar, com média de US$ 3,1 mil (veja abaixo).

O estudo usou na maior parte dos casos dados de universidades públicas. Os valores em dólares foram calculados com base no poder de compra de uma cesta de bens e serviços.

“O Brasil se saiu relativamente bem: ficou abaixo dos países desenvolvidos, mas com destaque no âmbito regional”, diz o colombiano Ivan Pacheco, assistente de pesquisa do Boston College. “Tivemos surpresas positivas, como a Índia, onde o governo fez um esforço grande para melhorar salários. E negativas, como a Armênia: os salários estão baixos nos países da antiga União Soviética.”

Outra conclusão do estudo é a de que, com exceção dos países anglo-saxões, benefícios indiretos são tão importantes quanto salários. Os bônus vão desde incentivos dados pela Índia a quem faz vasectomia à remuneração por produtividade, usada em larga escala na China. “A tendência em muitos países é de aumento do gap entre professores superstars e os que não conseguem nem ter uma vida decente de classe média.”

Esta análise é diferente daquela publicada na Folha de S. Paulo por Sabine Righetti. Aquela se refere ao salário dos professores no topo da carreira. Esta aqui se refere ao salário médio dos professores. Como não poderia deixar de ser, é menor (US$ 3.100,00/mês X US$ 4.550,00/mês). O interessante é observar que o salário médio do topo da carreira é “apenas” US$ 1.450,00/mês a mais do que o salário médio.

Acredita-se que tenham sido levando em conta os salários dos professores universitários da rede particular (privada), que, se não me engano, ganham por hora/aula.

Analisemos aqui as atividades “normais” dos professores universitários:

a) preparação e apresentação de aulas, tanto de graduação como de pós-graduação. Esta atividade inclui atualização do material didático, atualização de referências bibliográficas a serem utilizadas pelos alunos, elaboração e correção de atividades de avaliação (provas, exercícios, etc).

b) desenvolvimento de atividades de pesquisa: elaboração de projetos, obtenção de recursos financeiros para o desenvolvimento dos mesmos, manutenção da infra-estrutura de pesquisa (laboratórios), elaboração de publicações científicas, apresentações em encontros científicos.

c) orientação de alunos de iniciação científica e pós-graduação, e supervisão de pesquisadores de pós-doutorado. Esta atividade pode ser extremamente complexa e “time-consuming”, dependendo do grau de envolvimento do orientador com seus alunos.

d) participação em reuniões de comissões e comitês intra-administrativos (ou seja, no local de trabalho).

e) desempenho de atividades de gestão, como de chefe de departamento, presidente de comissões, diretor de institutos ou faculdades, eventualmente de pró-reitoria.

f) análise de projetos e de manuscritos (peer-review). Dependendo do pesquisador, o número de manuscritos avaliados pode chegar a 1 por semana (cerca de 50/ano). Conheço gente que avalia este número de trabalhos.

g) participação em comissões e comitês externos, em diferentes órgãos e/ou agências de fomento.

Será que faltou alguma coisa?

Gostaria aqui de fazer uma homenagem ao colega Alexandre Prado, do Departamento de Química da Universidade de Brasília, que faleceu recentemente. Alexandre foi meu aluno de graduação. Ótimo aluno. Teve uma carreira brilhante na UnB. Grande perda. Meus sinceros pêsames à família.



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