Acesso aberto: democracia ou armadilha?

Notícia de já alguns dias atrás (1/5) da Folha de S. Paulo conta que Harvard não está gostando de pagar a conta das assinaturas das revistas científicas. E por isso está estimulando seus pesquisadores a publicar em revistas de acesso aberto e a disponibilizar seus artigos em suas páginas pessoas ou institucionais para que as pessoas em geram possam ter acesso aos mesmos.

Universidade Harvard reclama do preço de revistas científicas – Sabine Righetti (São Paulo)

Harvard, considerada uma das melhores universidades do mundo, está incentivando seus pesquisadores a publicarem artigos em periódicos de acesso aberto. A instituição emitiu um comunicado aos seus mais de 2.000 cientistas pedindo que considerem publicar seus trabalhos nas revistas acessíveis de graça na internet.

O comunicado também pede que os pesquisadores, caso publiquem em revistas de acesso pago, garantam que os trabalhos fiquem disponíveis na internet em sites ou blogs -e que incentivem os colegas a fazerem o mesmo.

De acordo com Harvard, a conta de assinatura dos periódicos está “insustentável” -mesmo para uma instituição com orçamento anual de US$ 6 bilhões. A universidade gasta US$ 3,5 milhões por ano para garantir o acesso aos principais periódicos científicos do mundo. As publicações de maior impacto hoje, ou seja, as que são mais citadas pelos cientistas, cobram assinaturas anuais que chegam a custar US$ 40 mil. Algumas, no entanto, permitem que os autores disponibilizem seus trabalhos na internet. Já as revistas de acesso aberto cobram para publicar os trabalhos aprovados (média de US$ 1.500 por artigo), mas deixam todo o conteúdo disponível gratuitamente.

O movimento de Harvard vem na onda de um boicote internacional de cientistas à editora Elsevier devido ao valor da assinatura de periódicos como o “Lancet”. Mais de 10 mil cientistas já se comprometeram a não enviar trabalhos a revistas da Elsevier.

No Brasil, quem paga a conta do acesso aos periódicos é a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Em 2011, a Capes gastou R$ 133 milhões para que 326 instituições do país acessassem mais de 31 mil revistas científicas.

O curioso é Harvard não querer pagar as assinaturas da Science e da Nature, por exemplo, que não são de acesso aberto. Além de centenas (milhares?) de outras revistas científicas de excelência, como, por exemplo, as editadas pela American Chemical Society e pela Royal Society of Chemistry.

Mas, qual é a lógica perversa que seria consequência de uma mudança deste tipo (não se pagar as assinaturas das revistas que as exigem)?

Façamos algumas contas. Segundo a reportagem, em 2011 a CAPES gastou R$ 133 milhões para pagar as assinaturas multi-institucionais de 31 mil revistas científicas. Então o preço de uma assinatura deste tipo (que é mais cara) de uma destas revistas científicas é, em média, R$ 4.290,00/ano. Ou cerca de R$ 357,00/mês, na média. Menos do que um salário mínimo. Isso é muito, é pouco ou está de bom tamanho?

Na prática, uma vez que a assinatura institucional está disponível, qualquer membro da “comunidade acadêmica” terá acesso àquela revista. E até mesmo os que não fazem parte desta “comunidade”. Graças ao e-mail e às redes sociais, hoje em dia qualquer pessoa pode escrever para outra e solicitar uma cópia PDF de um artigo do qual não tem acesso. Ou até mesmo para o autor do artigo.

“Antigamente”, quando a internet não existia (cerca de 20 anos atrás), era comum, bem comum, se solicitar um exemplar de uma separata de um artigo ao seu autor principal. Para aqueles que nunca viram, ou não sabem o que é uma separata, é um exemplar do artigo, impresso, em geral, em papel de excelente qualidade, que servia para ser distribuída. Mas, uma vez que as separatas terminavam, era necessário se fazer fotocópias do artigo original. E enviar pelo correio.

Voltando ao assunto: imaginemos que a CAPES decida parar de pagar as assinaturas das revistas científicas e estimule os autores a publicarem em revistas de acesso aberto. Quais as consequências imediatas disso?

1. Acesso à muito menos informação, pois não se terá acesso às revistas e sim aos ARTIGOS publicados pelos autores, que gentilmente disponibilizarão seus artigos em suas páginas pessoais e/ou institucionais. Nem todos artigos de uma revista de acesso aberto estão disponíveis, se algum autor não se dispuser a ter seu artigo em acesso aberto. Mas na maioria das vezes sim.

2. Em vez de se pagar cerca de R$ 357,00/mês para se ter acesso à revista completa, terão que ser pagos cerca de, no mínimo, R$ 500,00/artigo para se ter acesso irrestrito para aquele artigo. Supondo de uma revista desta publique 30 artigos, irá custar R$ 15.000,00. E quem vai pagar esta conta? O contribuinte, claro. A sociedade, o cidadão, as pessoas em geral, enfim. Vão pagar muito mais por muito menos. Nenhum pesquisador irá pagar do próprio bolso para publicar em uma revista de acesso aberto. Os pesquisadores utilizarão dinheiro de seu às vezes parco fundo de pesquisa para isso. Dinheiro este financiado pelas agências públicas de fomento. Sustentadas pela sociedade.

Além disso, as revistas de aceso aberto são, via de regra, de pior qualidade do que as revistas por assinatura (veja aqui, por exemplo).

Detalhe: R$ 500,00/artigo é um valor relativamente baixo para se publicar um artigo em revista de acesso aberto. Este montante pode chegar a US$ 10.000,00! Por UM ARTIGO. Com este valor poderia-se pagar as assinaturas de quase cinco assinaturas institucionais anuais, de acordo com os valores pagos pela CAPES.

O que é melhor?



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20 respostas

  1. Pra conta poder ser comparável, é preciso verificar as estatísticas de acesso efetivo aos periódicos pelo portal Periódicos Capes (PC). Em 2010, foram 25 milhões de acessos, mas não há dados discriminados por artigo nem por revista.

    Não é impossível que fração considerável desses 31 mil títulos não tenha tido nem uma única consulta desde o começo do portal.

    Há que se notar tb que muitos dos títulos no portal PC *não* dão acesso integral.

    Embora o montante possa chegar a US$ 10 mil por artigo em open access, esse é um valor extremo. Um valor mais razoável é de US$ 1.500 como o cobrado pela PLoS. E temos que descontar a média dos valores cobrados pelas revistas de acesso fechado para publicação. Na Nature, p.e., pra figura colorida são cobrados US$557 e US$278 por figura adicional.

    Ainda é preciso levar em conta que se trata de um movimento. Pode ser que os pioneiros tenham q pagar um preço. Mas, uma vez, alterado o ecossistema, o saldo pode passar a ser positivo. Depende do cenário.

    []s,

    Roberto Takata

    • Caro Takata,

      O problema que você assinala no início do seu comentário é interessante. Porque uma revista que nunca é acessada deve ser assinada?

      Há tempos atrás fui presidente da comissão de biblioteca do IQSC, quando ainda tínhamos assinaturas impressas de todas as revistas científicas. Algumas não eram consultadas, nunca. Assim, eu e a comissão de biblioteca decidimos trocar as assinaturas daquelas que não eram consultadas por outras, de revistas com potencial de ser muito mais consultadas. Deu certo, felizmente. Mas teve um professor que protestou, e muito. Disse para mim que estávamos destruindo o acervo da biblioteca. O problema é esse: na falta de dinheiro para se assinar todos os periódicos, há que se fazer algumas escolhas. O portal CAPES é extremamente democrático, assinando revistas de todas as áreas, etc.

      O acesso integral é mais caro. Imagine se amanhã o Journal of the American Chemical Society se tornasse uma revista de acesso aberto? Quem iria pagar para ter acesso aos artigos publicados entre o final do século XIX e início do século XX? Muitos poderiam dizer que estes trabalhos não têm valor científico. Ou que já estão ultrapassados. Sei lá, qualquer argumento. Mas então todos estes trabalhos ficariam no limbo de alguma biblioteca que tenha a versão impressa, anterior à versão digital. Mesmo os já digitalizados, que já foram publicados. Quem irá pagar pelo acesso aberto destes?

      Os custos de edição sempre foram cobrados. Até alguns anos atrás várias revistas solicitavam o que chamavam de page charges (custos por página), não obrigatórios. Figuras, principalmente coloridas, sempre foram cobradas.

      Eu tenho acompanhado de perto toda esta movimentação do acesso aberto. Vamos ver o que vai acontecer. A Royal Society of Chemistry já lançou algumas revistas novas de acesso aberto. Mas, no geral o que a gente observa é que a grande maioria das revistas de acesso aberto é muito ruim. E toda a semana a gente recebe e-mails de propaganda de uma nova revista de acesso aberto. Para mim, é gente querendo fazer dinheiro às custas daqueles que querem fazer seus currículos com qualquer publicação.

      abraços,
      Roberto

  2. “Porque uma revista que nunca é acessada deve ser assinada?”<=Não deve. Mas é política de muitas editoras fazer pacotes – junto com revistas de interesse vão outras obscuras.

    "Quem irá pagar pelo acesso aberto destes?"<=Artigos antigos já tiveram seus custos cobertos. E depois de 70 anos da morte do autor, entram em domínio público.

    Certamente há muitas revistas de acesso aberto ruins, assim como há revistas de acesso fechado ruins. Eventualmente haverá mais revistas ruins de acesso aberto, mas é questão de o autor selecionar bem o periódico para o qual pretende submeter seus manuscritos: seja de acesso aberto, seja de acesso fechado.

    Porém, o mais importante do acesso aberto é que as informações ficam disponíveis para todo mundo; em particular, para os financiadores das pesquisas: o público.

    Não estou com isso, bom dizer, defendendo que o sistema de acesso fechado seja implodido.

    []s,

    Roberto Takata

    • Caro Takata,

      Tua primeira afirmação revela um jogo inaceitável, que é de empurrar publicações ruins para serem pagas por instituições que dependem de recursos públicos para se sustentar. Estas editoras deveriam ser denunciadas.

      No caso da tua segunda, não tenho tanta certeza. Acho que boa parte das revistas de química, pelo menos, não funciona assim. Há que se pagar a assinatura para se ter acesso a todo o acervo, mesmo aquele com mais de 70 anos.

      Tua terceira é inquestionável.

      Quanto à quarta: eu gostaria realmente de saber qual a porcentagem do público leigo que consulta revistas científicas altamente especializadas. Eu acho ótimo, para não dizer sensacional, que as revistas do Scielo sejam todas disponibilizadas “gratuitamente” (a sociedade está pagando através das agências financiadoras). Mas qual a porcentagem dos downloads de revistas internacionais que são feitos por pessoas distantes do meio acadêmico? Eu sinceramente gostaria de saber.

      Também não acho que o sistema de acesso aberto tenha que ser eliminado. Mas penso que deve ser muito melhorado.

      abraço,
      Roberto

  3. Prezado Roberto :

    Concordo contigo. Como se diz, não existe almoço grátis. Existem pessoas que consideram que open acess não tem custo. Tem custo e tem lucro, inclusive para o editor. O ideal seria que as grandes editoras abrissem o conteúdo após 20 ou 30 anos.
    Creio que a sugestão da univ. De Harvard esta mal explicada, pois o autor de um paper não tem direito de disponibilizar o artigo em blogs ou páginas da internet uma vez que fez a transferencia de copyright.
    Abraço
    Jorge

  4. Caro Roberto

    As coisas não são tão lineares como estão sendo colocadas no artigo e nos comentários.

    Primeiro é o preço de uma consulta na Internet de uma revista paga. Para um só artigo, enviado pela Internet é cobrado em geral uma quantia de US$35,00, ou seja, para um custo zero de envio cobra-se mais caro do que enviar uma separata pelo correio, ou seja, é uma mina para as editoras.

    Segundo, não são todas as revistas que utilizam os recursos para a promoção da ciência, diria até que é o dinheiro é mais utilizado para a promoção dos editores do que da ciência.

    Terceiro, há uma espécie de dupla cobrança, os autores geralmente recebem dos agentes financeiros incentivos monetários para a publicação e geralmente a pesquisa é paga com fundos públicos (ou isenções fiscais, que também são fundos públicos).

    Quarto, os autores ao publicar em revistas são recompensados direta ou indiretamente pelas instituições, mesmo no Brasil já há em algumas instituições prêmios monetários para quem publica nesta ou naquela publicação.

    Quinto, muitas revistas os revisores trabalham Pro bono, simplesmente porque ser revisor de dadas revistas reforçam em muito o seu currículo.

    Sexto, com o advento da Internet, mais e mais pessoas procuram nas fontes primárias de informação o que leem em blogs, artigos de vulgarização e outras formas de divulgação. Cobrar por este acesso simplesmente deixa as pessoas na dependência de acreditar na interpretação dos comentaristas que pinçam partes dos trabalhos mostrando muitas vezes só parte do que interessa.

    Sétimo, a cobrança dos artigos ou o uso de portais como o da CAPES, restringem o acesso de milhares de profissionais com formação acadêmica forte, que poderiam mesmo trabalhando em empresas privadas ou por conta própria se servir da informação gerada com dinheiro público.

    Oitavo, a lógica mercantilista na ciência está fazendo com que a publicação não seja mais uma forma de dar uma satisfação a população que paga os salários dos autores.

    Nono, estranhamos o pro quê da postura de uma instituição como a Havard de incentivar a publicação em revistas “abertas”, porque não nos damos conta que os Norte Americanos da academia tem como padrão de que toda a pesquisa financiada com dinheiro público deve ter seus resultados públicos.

    Décimo, o custo de editoração e diagramação de uma revista vem caindo cada vez mais e estes ganhos não estão sendo transferidos para os consumidores (pesquisadores, professores, alunos e público em geral).

    Décimo primeiro, os critérios para definir o que é uma boa ou má publicação estão mais baseados na antiguidade das revistas do que na qualidade de seus artigos, se á uma revista tradicional ela tem acesso mais corrente e por consequência tem um número maior de citações, um dos principais padrões que definem a qualidade de uma revista. Tenho visto por exemplo publicações na Nature que não resistem a uma análise de um aluno de mestrado, porém como é a Nature, todos respeitam.

    Décimo segundo, e talvez o mais importante, se as revistas não se abrirem ao público em geral, este com o aumento do grau de escolarização procura-rá informações na rede, achando somente em locais indevidos (exemplo, os blogs criacionistas), a falta de abertura da ciência, gera a má ciência, onde qualquer um escreve qualquer coisa e para refutá-lo só podemos escrever algo sem base ou referência nenhuma, pois não é possível remetê-lo a um bom artigo científico.

    Roberto, estamos no limiar de um novo tipo de divulgação científica, pois a academia não possui em seus quadros a maior parte dos mestres e doutores formados, logo ou se abre não só o acesso, mas também as críticas pois o volume de informações (e críticas, pertinentes ou não) que passariam por novos canais (desde que devidamente auditados) será muito superior aos canais tradicionais.

    Não sou adepto de uma ciência baseada em informações desconexas ou politizadas que temos nos Blogs, mas a ação dos mesmos não pode ser negada como fonte de discussão, ou nos adaptamos (como tu estás fazendo, dividindo tuas opiniões em dois blogs distintos) ou seremos consumidos. É o famoso enigma da Esfinge de Tebas, “Decifra-me ou te devoro”, ou nos adaptamos ou seremos devorados pala má ciência.

    • Primeiro <= pois então, uma mina de ouro, sem dúvida. Me pergunto se este preço é alto porque pouca gente compra. Pois hoje em dia não é (tão) difícil encontrar o endereço de email de um dos autores do artigo e pedir uma cópia. Se ele tiver, não vai negar. Citação (quase) garantida.

      Segundo <= possivelmente voce está certo.

      Terceiro <= Não Sei se entendi bem. Quais seriam tais "agentes financeiros"? As agências de fomento?

      Quarto <= algumas, é verdade.

      Quinto <= muitas? Existe exceção?

      Sexto <= é mesmo? Rapaz, esta sua afirmação foi uma surpresa para mim. Achei que muito poucas pessoas se interssavam por fontes primárias. Voce ficaria surpreso com o número quase ínfimo de "cliques" os leitores deste blog consultam as fontes primárias que eu incluo, sempre que possível. Quase nada.

      Sétimo <= é verdade, sem dúvida.

      Oitavo <= achei sua afirmação meio radical demais, por vários motivos. Existem formas e formas dos pesquisadores darem retorno para a sociedade. Uma delas é a publicação. Outra é na forma de inovação tecnológica (embora uma minoria muito pequena – gostou da redundância? – de pesquisadores brasileiros pratiquem esta forma de "produção científica"). Outra é na forma de pesquisa que resulta em políticas públicas. Rara, mas existe, inclusive aqui no Brasil. Veja aqui: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=80299. Acho meio perigoso generalizar a "lógica mercantilista" da ciência. É assumir que se faz ciência somente por dinheiro, ou reconhecimento, mas nunca por vocação, ou realmente interesse.

      Nono <= voce está cheio de razão. Discutir este tópico pode dar muito pano prá manga.

      Décimo <= seria legal que os editores lessem o que voce escreveu. E acho que deve ser a mais pura verdade. E temos que deixar manuscritos praticamente prontos para publicar. Algumas revistas têm "templates" para a formatação dos artigos como estes devem ser publicados. Qual o trabalho que estas revistas têm? Quase nenhum. Mas, algumas são revistas de excelência, nas quais todos os pesquisadores da área de pesquisa relacionada à da revista gostariam de publicar. Logo, vale a pena o esforço. Mas é justo? Os autores fazem a pesquisa, escrevem o manuscrito, formatam no formato da revista e no fim transferem os direitos autorais para a revista. Não têm nem o direito de distribuir o próprio artigo para quem quiser baixar, como disse o Jorge acima. Isso não é muito estranho? A revista é dona do artigo só porque o publicou. Ou então paga-se, e caro, pelo acesso aberto.

      Décimo primeiro <= outro assunto que dá muito pano prá manga.

      Décimo segundo <= esta sua colocação é interessante, mas eu me pergunto quantas pessoas sem um devido "background" conseguiriam entender um artigo sobre biologia evolutiva. Ou sobre como as mudanças climáticas podem ocorrer em função de vários fatores, inclusive ações do homem. Não duvido da capacidade das pessoas, mas entender um artigo científico desta natureza não é trivial, nem para quem tem um bom "background". Claro que isso não quer dizer que com isso estes artigos não deveriam poder ser baixados. Mas, como voce disse, a lógica mercantilista das publicações científicas tende mais a dificultar este acesso do que a facilitar. Neste sentido, as revistas brasileiras que estão no Scielo são um excelente exemplo de isso é possível, mas… alguém tem que pagar. Agencias financiadoras do Scielo: obrigado, os pesquisadores e a sociedade agradecem.

      Tuas conclusões são importantes. Importantes porque a comunidade acadêmica ainda não acordou para os fatos que voce indica. E já passou da hora disso acontecer. A sociedade brasileira está mudando, principalmente devido ao acesso à internet. E nós, acadêmicos, não estamos conseguindo aproveitar esta oportunidade. Por vários motivos: organização, tempo, infra-estrutura, etc. Falta uma melhor articulação e integração das atividades acadêmicas. Espero que não demore muito para isso começar a acontecer.

  5. Roberto, só um comentário sobre o item décimo segundo.

    Estamos formando mestres ou doutores para eles ficarem presos a academia, ou para eles levarem a capacidade de pesquisa para o resto da sociedade?

    Tu bem dizes, ” Uma delas é a publicação. Outra é na forma de inovação tecnológica”, esta inovação deve ser levada ao maior número possível de pessoas.

    Ia só falar do item décimo segundo, porém vou comentar sobre o “mercantilismo”. Acho que não é bem o caso, mas o EGO inflado de possuir o saber é espantoso, e isto bloqueia inclusive dados que seriam valiosos a outros. Na questão do aquecimento global antropogênico, assunto que mais me divirto do que qualquer coisa (não é a minha especialidade) tem o caso dos núcleos de árvores de Yamal, que os acadêmicos do CRU seguraram os dados brutos por mais de dez anos, porque eles estavam guardando para fazer publicações inéditas!
    Inclusive fiz uma perguntinha a um dos seus expoentes que era a seguinte: Se eles achavam tão importante as suas conclusões em termos do futuro da humanidade, por que seguravam os dados que seriam (segundo suas convicções) importantes para preservar a vida de milhões de pessoas? Ou eles deveriam abrir seus dados, ou eles mesmos não acreditavam em suas hipóteses.
    Não sei por que nunca tive resposta!

  6. Excelente discussão. Muitas coisas ditas foram grandes verdades.

    Eu sou a favor da abertura de acesso a artigos científicos sempre que possível. Sei da existência de revistas que cobram um absurdo por isso. Tenho certeza de que elas o fazem porque muitos autores pagam. No entanto existem outras na minha área que oferecem acesso aberto por valores bem mais em conta. Suspeito que algumas existem apenas por ideologia de quem as mantem, e logo talvez deixem de existir com a morte de alguns membros. Vejam bem, o “falecimento” de uma revista pode ser OK, desde que a informação publicada continue disponível.

    Acredito que possa existir um meio termo. E tb que o preço “justo” ainda esta se ajustando. Valores razoáveis para o acesso aberto, talvez com a ajuda de outras fontes de renda. Veículos de informação existem a seculos, logo se conhecem muitas maneiras de mante-los. A sociedade cientifica tende a ser conservadora demais. O que impede por exemplo a revista de incluir (como muitas já o fazem) propagandas de produtos ou empresas? Ou que sejam adotadas por iniciativa privada? (Ornitólogo rico, famílias com pacientes de câncer)?

  7. Alias, sinto falta na minha área de uma coisa que vejo em Física: revistas que oferecem um template para um determinado editor de texto com output em .pdf. Dessa maneira o artigo ja sai inteiro no formato de publicação da mão do autor. Isso deve cortar muitos gastos de editoração. Uma revista com isso e um pouco de apoio externo (propaganda, um padrinho e um membro que gosta) pode seguramente cobrar um valor bom aos autores.

  8. Roberto

    Havard está fazendo o que a academia dos países menos desenvolvidos tem vergonha de fazer, democratizar a cultura.

    Com esta frase começo uma espécie de elogio da maturidade que grandes instituições como Havard demonstram, eles provavelmente tem muito menos problemas de financiamento do que a grande maioria de universidades e países em todo o mundo tem. Porém, mesmo com esta condição privilegiada eles não tem a mínima vergonha de dizer que gostariam de gastar o seu dinheiro em pesquisa e não no enriquecimento de editoras ou mesmo de associações de classe que não transferem ao pesquisador todos os benefícios de custo que a informática moderna possui.

    Imagine, há vinte ou trinta anos, recebiam os editores das revistas via correio os textos datilografados das revistas. Após a análise de um de seus editores, era reprografado e enviado via correio cópias para os revisores. Cópias Xerox eram caras e as taxas do correio, apesar de pequenas, eram existentes. Revisados os textos eram remetidos de volta a editora, e dependendo da qualidade do trabalho este movimento era repetido duas ou mais vezes (tudo isto custo). Tudo correto, segundo os revisores, vinha os custos de diagramação, revisão da diagramação, provas e outros procedimentos, para por fim ser realizada a edição final. Até as separatas enviadas para os autores custava caro, imagine quase meio quilo de papel enviado via correio aos autores, tudo custo!

    Bem, o que ocorre nos dias atuais, o revisor abre um e-mail específico onde aparece as propostas de artigos, lendo rapidamente verifica a qualidade do mesmo e logo após envia, também via e-mail o artigo a revisores, estes quando tem tempo (e disposição) reenviam o mesmo artigo desaprovando-o ou aprovando com modificações. De novo o custo é do tempo do revisor, pois a volta e o reenvio para o autor, tudo por meio eletrônico. Aprovado o artigo, continuando no computador, uma pessoa habilitada coloca no formato da revista sem nem precisar de revisão nem verificação de erros ortográficos pois isto já foi feito pelos revisores. Aperta alguns botões e a revista já está on line.

    Comparemos os custos dos dois tipos de trabalho. Olhei numa revista técnica de uma sociedade norte-americana de engenharia, para saber se receber uma separata de um artigo por correio por volta de 1976 custava em torno de US$ 10,00. Hoje em dia para receber um artigo da mesma revista da mesma associação custa US$ 38,00. Sei que há inflação nos Estados Unidos, porém neste período a inflação não atingiu esta marca, a quantidade de leitores no mínimo quadruplicou, e os custos caíram em torno de 10% dos custos que se tinha em 1976, ou seja, se fosse cobrado US$ 5,00 por cópia eletrônica ainda estaria muito acima do que estava em 1976.

    Conclusão 1: Tanto as associações como as editoras estão fazendo do trabalho científico um imenso e rentável negócio, onde quem paga o custo são os mesmos que fazem o trabalho mais penoso, os usuários. Chamo a atenção que os títulos de periódicos estão se multiplicando, e principalmente os periódicos vinculados a editoras particulares, isto demonstra quanto proveitoso e lucrativo está se tornando editar uma revista.

    Conclusão 2: Para variar a nossa academia se mostra mais elitista que a academia norte-americana, para dar um exemplo vou utilizar uma citação de um conhecido blogueiro científico nacional, um tal de Roberto, que apesar de consciente do papel da academia e ciência na sociedade brasileira, dá umas deslizadas e publica algo como “mas eu me pergunto quantas pessoas sem um devido “background” conseguiriam entender um artigo sobre biologia evolutiva”.

    Agora eu que pergunto: E daí? Qual o problema do seu Zé que abriu um artigo sobre biologia evolutiva, e na hora da janta disse para a esposa. “Não tenho tempo para lavar a louça, pois tenho que estudar melhor um texto que estou lendo de BIOLOGIA EVOLUTIVA”, o problema será da dona Maria, esposa do seu Zé, que além de preparar a janta ficou com toda a louça para lavar. Por outro lado, um jovem rapaz de 14 ou 15 anos, com capacidade intelectual muito acima da média, aqueles gênios do tipo 1:1.000.000, que nasceu numa cidade no interior do Alagoas, e que conseguiu o seu computadorzinho com uma banda lá não muito larga, e que se interessa por alguma peculiaridade científica, poderá ter acesso não só a biologia evolutiva, mas o universo da ciência atualizada e dinâmica, será que talvez a leitura deste jovem não valha 1.000.000 de leituras do Seu Zé?

    • Oi Rogério,

      US$ 10.00 em 1976 valem hoje entre US$ 39.50.

      No meu ver, o buraco é mais embaixo. As editoras de acesso aberto hoje estão ganhando mais do que as editoras das revistas de “acesso fechado”. Ou seja, proporcionalmente o contribuinte está pagando mais pelo acesso fechado do que pelo acesso aberto.

      Desculpe, mas eu acho que seu argumento sobre o seu Zé é puramente retórico.

      abraço,
      Roberto

    • Oi Rogério,

      Mais uma informação que pode ser interessante. Segundo a base de dados bibliográfica Web of Science, em 2011 o Brasil publicou 41,477 artigos. Em 2008 a média de publicações/pesquisador brasileiro foi de 0,35 artigo. Vamos supor que este número tenha aumentado para 0,4 em 2011. Assim, se cada pesquisador brasileiro tivesse publicado um artigo indexado no Web of Science em 2011, o número de artigos brasileiros indexados teria sido de 103.692 artigos, certo? Vamos agora supor que todos estes artigos fossem publicados em revistas de acesso aberto, a um custo médio de US$ 1.000,00/artigo (valor este bem razoável para publicar um artigo em revista de acesso aberto). O custo total para os brasileiros publicarem seus artigos em 2011 teria sido de R$ 103.692.000,00. Isso tornaria apenas estes artigos disponíveis para download. Considerando-se que, segundo a reportagem da Folha de São Paulo comentada acima, a CAPES gastou R$ 133 milhões em assinaturas de periódicos em 2011, que dá acesso a TODOS os artigos publicados nestes periódicos, o que seria mais barato para a sociedade? Ter acesso à apenas os artigos publicados pelos brasileiros ou a todos os artigos publicados nas revistas?

      Eu não sou contra o acesso aberto. Só acho que o preço praticado pelas revistas de acesso aberto não justifica a troca das assinaturas pelo acesso aberto. Se os preços cairem substancialmente, aí sim a coisa muda de figura.

      abraços,
      Roberto

      • Caro Roberto

        O portal da CAPES não atinge grande parte das publicações científicas fechadas, isto ocorre pelo menos na minha área. Eu arriscaria a dizer que aproximadamente 75% das revistas mais importantes só aparece o resumo e depois um gentil convite para gastarmos US$35,00 ou mais dólares para recebermos via online uma cópia do artigo.

        Quanto US$10,00 valerem hoje em dia US$39,50 prova exatamente o que estou falando, estão ganhando dinheiro no lugar de divulgar trabalhos científicos, os custos caíram vertiginosamente e esta queda não foi transferida para o leitor.

        Quanto a figura do Sr. Zé, talvez da forma que coloco não exista (ou seja um em um milhão) mas hoje em dia há centenas de unidades de ensino superior que não tem verbas para manter assinaturas de revistas e muito menos os seus professores e alunos dinheiro para adquiri-las.

        A vida acadêmica hoje em dia não é restrita as grandes universidades federais ou paulistas, estamos formando uma bela quantidade de doutores que estão se espraiando pelo Brasil a fora.

      • Oi Rogerio,

        Antes de mais nada, me desculpe pela demora em postar seu comentário. Não sei porque, eu não recebi a notificação que seu comentário havia sido postado.

        O que me diz sobre o portal CAPES é surpreendente. Me pergunto como isso é possível, se justamente é este o propósito do portal CAPES. Alguém está discutindo com a CAPES sobre isso?

        Não sei se os custos das publicações caíram vertiginosamente. Realmente, pode ser. Mas pode ser que continuem os mesmos. Publicar na internet também custa caro. E é por isso que as revistas de acesso aberto cobram o que cobram.

        No que se refere às instituições de ensino superior que não podem pagar as assinaturas das revistas, muito menos seus professores e alunos, OK, tudo bem? Mas então este custo deve ser transferido para quem publica (ou seja, os autores)? Será que não estaremos tapando o sol com uma peneira?

        Com certeza, no seu quinto parágrafo. Mas este assunto pouco tem a ver com as assinaturas de revistas “fechadas” ou de acesso aberto. Aí, o buraco é mais embaixo. Como mostra a situação da greve nas universidades federais.

        abraços,
        Roberto

  9. Roberto,

    Eu acredito que as revistas gratuitas, on-line, mantidas por instituições sem fins lucrativos são uma alternativa bem vida.

    De uma forma geral, o benefício do profissional pesquisador DIRETO com as publicações é praticamente nulo. Os ganhos adjacentes de produção podem ser uma bolsa de pesquisas CNPq ou mais verbas para pesquisa. Ninguém ganha 1000 reais a mais por ter publicado um bom artigo em um mês.

    Assim, por mais qualificado que seja o trabalho o retorno é indireto, incerto, e causa a impressão que, muitas vezes, os grandes cientistas tem um retorno salarial muito pequeno se comparado aos pesquisadores acomodados que não se esforçam para publicar.

    Por outro lado, o retorno do Editor particular é líquido e certo, seja em contratos diretos com o governo, pela venda direta de artigos ou ainda com publicidade anexa aos sites de distribuição.

    Assim, eu particularmente espero que o modelo de revista on-line e de publicação e acesso gratuitos prospere. É incômodo trabalhar com a impressão de que estou sendo usado para o enriquecimento de alguém sem o retorno adequado, por mais que isto pareça (ou seja) uma obrigação de meu cargo.

    Afinal de contas, “o conhecimento pertence à humanidade e é a tocha que ilumina o mundo”, Pasteur.

    Nós vivemos em um mundo onde um mainframe barato pode distribuir papers por todo o globo. Qual o sentido de continuarmos a sustentar organizações tão lucrativas pra os outros à custas de nosso suor?

    Abs,
    Armando
    http://www.bioorganicsciences.blogspot.com

  10. É muito claro que muitas revistas tradicionais estão super-saturadas. O volume de produção científica aumentou muito na última década e os editores tradicionais não estão dando conta de tantas publicações.

    Como resultado, muito conhecimento científico está ficando parado nas prateleiras esperando na fila para serem divulgados ao mundo. Notem por exemplo a alta taxa de rejeições de artigos no momento de envio.

    Assim como nossos portos, aeroportos e rodovias, estamos com um problema logístico grave atrapalhando e muito a produção científica.

    E a solução óbvia é extremamente simples.

    É possível com pouquíssimos recursos viabilizar uma revista on-line simples, barata e eficiente.

    – Existindo um modelo de publicação, os autores redigem o texto seguindo padrões rígidos de formatação. O editor rejeitaria de início artigos fora dos padrões.
    – Uma vez enquadrado no modelo, o artigo submetido seria avaliado por 2 referees. As respostas, enviadas ao autor para correções.
    – Aprovado o artigo, o mesmo seria postado on-line de uma maneira tão simples como o “copiar e colar” de um pdf em um blog.
    – Não seriam necessários volumes, sub-volumes, editoriais demarcados, trabalhos gráficos. Publicação em fluxo contínuo.
    – Ferramentas de pesquisa? Basta anexar o Google ao site.

    É muito simples. Tão simples que muitos já o fazem.

    Por que gastar milhões em margens de lucro para fazer um trabalho que é 98 % nosso?

    Atualmente nós pesquisamos, fazemos o levantamento bibliográfico, redigimos o texto, assumimos os riscos de qualidade do trabalho, servimos de referees. Por que transferir todo o retorno em capital para os outros?

    att
    Armando Pomini
    http://www.bioorganicsciences.blogspot.com

  11. Como uma simples mortal,nem ler o jornal folha de São Paulo,que eu costumava ler todos os dias, eu consigo mais. Só me é dado o direito de ler 20 reportagens e se me cadastrar 40!!!! Uauuuuu que máximo !!!! Mas eu me recuso,acho que deveriam logo fechar o site para assinantes e pronto. É uma pena.

    • Oi Manuella,

      Parece ser difícil para as pessoas entender que o jornal Folha de S. Paulo é uma empresa privada, que tem gastos monumentais para pagar todo o trabalho de obtenção e edição das notícias. Mas é este o fato. Custa dinheiro, não tem jeito. Temos que pagar pelo serviço que a Folha de S. Paulo fornece de nos manter informados.

      abraço,
      Roberto

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