Educação

ImageApós ler a postagem do Professor Mauro Rebelo no blog “Você que é biólogo”, intitulada “Onde estão os alunos? Para onde vão os alunos?”, e os 36 comentários ali postados, fiquei a pensar e a pensar no meu métier: o de professor.

Detalhes de alguns comentários à postagem do Professor Mauro me chamaram a atenção:

Diniz Viegas: “mostrava o conteúdo de forma clara e envolvente”

Rafel Oliveira: “Sou a favor dessas novas tecnologias aliadas ao ensino, DESDE QUE a aula seja NO MÍNIMO um pouco conteudista.”

Camilla: “realmente prefiro os métodos tradicionais de ensino”

Thanuci: “Se os professores querem classes lotadas, tem que manter os alunos interessados de alguma maneira, tem que trazer um diferencial. Ninguém é focado e disciplinado naquilo que não é interessante de alguma maneira. Por que ali na sala, atualmente, existe uma competição: entre o professor arcaico, que acha que está ensinando para uma classe dos anos 80 e todo o resto do mundo que oferece inúmeras possibilidades de aprendizado, das quais certamente os alunos encontrarão uma que se encaixe no seu modelo de interesse.
Como todas as profissões, a de professor precisa ser revista e isso não é novidade pra ninguém. Na minha opinião, o erro está no professor achar que os alunos é que devem se enquadrar no seu modo de ensinar, que ele é a fonte inesgotável de conhecimento que flui unidirecionalmente para os alunos, ignorantes e incapazes de aprender sozinhos.”

Rodrigo: “O papel do professor hoje em dia não é mais o de transmitir a informação. É de provocar os alunos, de mostrar para eles a importância do que estão aprendendo. De mais do que tudo dar apoio e os motivarem a, cada vez mais, investirem em sua formação.”

André Souza: “ao identificar os “stakeholders” (interessados, no caso alunos, professores, universidade, mercado,etc) e suas motivações (o que os alunos querem aprender, o que os professores querem ensinar, etc) a cada nova turma, definindo um escopo já permitiria a criação de conteúdo “sob medida” ao perfil dos alunos a cada semestre, e permitiria avaliações mais abrangentes ao longo do tempo, em vez de ficar restrita às 2 provas por semestre, como ocorre em muitas universidades”

Roberto Takata: “Eu acho que os professores deveriam criar uma Rede Nacional de Pesquisa em Educação. A maioria dos trabalhos sobre metodologia de ensino, aprendizagem e avaliação são muito restritos – especialmente no tamanho amostral. Uma rede suficientemente ampla permitiria que os professores seguissem um protocolo para testar as diferentes proposições de modo a criar um teste robusto e ver o que funciona e em que quais circunstâncias.”

O que fica claro para mim destes comentários é que existe uma grande discussão sobre ensino, educação, aprendizagem e pedagogia. Hoje, mais do que nunca, o tema “educação” está tão presente que parece estar se banalizado. Com isso, as muitas opiniões são divergentes, pouco claras, mal fundamentadas e não abordam o principal foco da questão: o que é educar?

Será que cabe ao professor fornecer ferramentas para o indivíduo se tornar um melhor cidadão, conseguir melhor se adaptar às situações sociais, desenvolver estratégias de inserção social e econômica, se tornar mais capacitado para conseguir um emprego melhor, ser uma pessoa mais ética?

Ou será que cabe ao professor “apenas” ensinar com autoridade? Autoridade, aqui, se refere ao conhecimento profundo da matéria ministrada, não a qualquer forma de autoritarismo.

O conhecimento sobre uma determinada matéria ou um conjunto de matérias, não é algo que se aprende durante a vida. Nenhuma pessoa vai aprender genética ou química enfrentando as adversidades pessoais, desenvolvendo suas habilidades e seu caráter. Para isso é necessário um professor que transmita o conhecimento com propriedade, que saiba fornecer elementos essenciais, suficientemente abrangentes e profundos, para que o aluno possa aprender sobre os mesmos. E estudar, é claro.

Muitos chamam esta abordagem de “conteudista”, de maneira bem pejorativa. Porém, nenhuma técnica pedagógica, nenhuma nova ferramenta de informática, de técnica de ensino, de “entretenimento em sala de aula”, ou nova abordagem de ensino para capturar o interesse do aluno, vai prover mais conhecimento do que aquele que dispõe de verdadeira autoridade sobre o conhecimento e faz uso de meios adequados para o transmitir para os alunos.

Deixemos de firulas, modismos e enganações, e vamos ao que realmente é importante: compromisso e responsabilidade de ambas as partes – professor e aluno.



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3 respostas

  1. Berlinck, nos últimos dois anos tenho sofrido o que você descreve ai. Os alunos esperam uma mágica na qual eu coloque a informação na cabeça deles e a partir dai poderão construir um conhecimento. Eu por outro lado, me viro pra passar essa informação da maneira mais “moderna” possível: videos, animações, esquemas, teatro… posso dizer que sempre que termino uma aula e vejo que o retorno não foi positivo, acabo me desanimando. E isso vira um ciclo vicioso. Erra quem acha que o professor não depende do estimulo do aluno. É uma via de mão dupla. E concordo plenamente com o seu desfecho: nós, como professores “autoridades” no assunto, temos ferramentas para passar aquele conhecimento. Na universidade nós não temos que fazer isso que você perguntou: “Será que cabe ao professor fornecer ferramentas para o indivíduo se tornar um melhor cidadão, conseguir melhor se adaptar às situações sociais, desenvolver estratégias de inserção social e econômica, se tornar mais capacitado para conseguir um emprego melhor, ser uma pessoa mais ética?” E sim, vamos nos esforçar ao máximo, professores e alunos para melhorar o ensino no Brasil.

  2. Caro,
    uma vez um professor (da área pedagógica) me provocou (bastante): “por que vc é resistente a inovações na sua prática docente?” Eu: “Acho arriscado e “aventureiro” mudar o certo pelo duvidoso.” Ele: “E como vc pode ter certeza que sua prática é “o certo”? Parecer “funcionar” para alguns poucos alunos (bem poucos mesmo!) te motiva a continuar assim? Arriscar outra estratégia poderia ser mais desastroso do que já é?” OK… não foi exatamente assim que a conversa decorreu…. mas é o sentimento que tenho dela… e que sempre RETORNA no final do semestre, quando resultados de avaliações (de diversos tipos!!) começam a compor minhas planilhas… e penso comigo: é… algo precisa ser feito diferente. No próximo ano as estruturas tradicionais serão abaladas (a parte teórica ou conteudista, pelo menos, continuará disponível, mas em outro formato). Se der “certo” compartilho com vc! kkkkkkk beijo, ana

    • Oi Ana,

      O que me parece certo é a “prática conteudista”. Ali pelo menos você garante conteúdo. O “como”, é bastante perfumaria, no meu ver. Mas tenho um colega que domina bem técnicas pedagógicas, e por isso suas turmas em geral têm desempenho muito bom. Porém, ele não abre mão do conteúdo, não, muito pelo contrário.

      Me entristece verificar que após 20 anos de USP eu JAMAIS vi uma única iniciativa de reciclagem pedagógica no campus de São Carlos. Eu acho profundamente lamentável que a melhor universidade da América Latina não adote a “atualização” de seus professores como sendo algo essencial. Mas, enfim, fazer o quê? Quem se preocupa e gosta de ser professor e de dar aulas, e ensinar, etc., vai sempre estar motivado. E isso os alunos percebem, e como.

      Tudo de bom, Roberto.

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